Jorrando

Sem Título (abóbora chorando)/
original disponível, fale comigo para saber mais

Estou no começo, beeem no começo, de uma pesquisa sobre os desdobramentos imagéticos e imaginários do choro. Para onde nos conduzem os trilhos das lágrimas?

JORRANDO

Uma vida de olhos voltados para o chão/ Eu uso os olhos para ver e chorar.

Para quê se chora, e para quem? Para si, para os outros? O choro é um ato catártico, extático, patético e piedoso – ou seja, carregado de pathos e paixão.

Chora-se de raiva, de dor e de júbilo, e também de mentira – lágrimas de crocodilo. Impossível desvencilhar-se totalmente de seu lado ridículo e performativo, por mais sincero o choro. Você está fingindo? Engole esse choro! Etc.

De que é composta a lágrima? De que é composto o choro? De que é composta a manha?

Insetos choram? – No Google: Quais insetos têm sentimentos? Quais insetos sentem dor? O que os insetos sentem? Como os insetos dormem?

Gotejar: plantas e frutos, o orvalho, a seiva. As nuvens chovem. Nascentes brotam. E os animais de grande e médio porte? (Carneiros choram ao morrer?) E os domésticos? (Minha gata lacrimeja, por sequela da rinotraqueíte.) Soro, terapia intravenosa.

Chorar de cansaço. Derramar-se como uma calda, deixar-se ir, jorrar.

Carpideiras jorram profissionalmente, expiando a dor coletiva do luto através do gozo inegavelmente presente de seu choro: a evidência da ausência de alguém que partiu. Chorar carpindo um lote, abrir uma cova. Abrir um berço, encher com paú, palha, terra, árvore. Quem tem tempo de chorar no roçado, calçando botinas?

O choro nas novelas, no audiovisual, na cultura popular, na canção – De Leandro a Mozart, via Leonardo. De longe não se chora, só de perto.

“Para ver bem são-nos necessárias – paradoxo da experiência – todas as nossas lágrimas”, diz Georges Didi-Huberman. Nós vivemos um luto coletivo. É preciso chorar.

Sempre sua,
Popinhas

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